São 17: 38 agora no relógio do meu notebook.
Estou aqui no meu quarto, de banho tomado, depois de um dia de trabalho, decidindo se vou ali preparar algo diferente para a minha marmita de amanhã ou se irei dedicar o meu tempo para preparar o post de hoje do BEDA.
Entro no facebook e a primeira coisa que me deparo é um post da Raquel Arellano (sempre aparecendo em primeiro lugar na minha timeline), falando sobre o vídeo do Jim Carrey ter redescoberto o que lhe dava prazer como ser humano. Está em inglês, mas é esse vídeo aqui, ó:
E eu chorei. Estou chorando ainda, enquanto escrevo para vocês aqui porque ele é intenso. Ele mexe com nossas emoções. Com o nosso eu que, lá atrás, imaginou tantas coisas, desejou tantas coisas na vida e hoje se vê atolado em tantas obrigações e responsabilidades, cumprir metas e alcançar objetivos que em alguns momentos se vê apagado, nulo, sem sentido, sem saber pra onde está indo. Sem saber realmente quem é e onde está a sua essência, Que criou em sua mente algo para o seu futuro totalmente diferente do que vive hoje.
Cresci em uma sociedade onde estudar, escolher uma carreira para o resto da vida, casar, constituir família, ter filhos, comprar uma casa e viajar uma vez por ano era significado de sucesso, de ter vencido na vida e de ter alcançado a felicidade plena. Mas será que isso é ser você? Você se sente viva sendo isso? Esse é o reflexo de quem você precisa ser para si ou será que é o que você precisa ser para o outro?
Eu demorei para escolher a minha carreira. Descobri depois de algum tempo “o que queria ser quando crescesse” e me formei aos 30 anos. E você quer saber se sou feliz com isso? Sim, sou. Gosto muito do que escolhi como minha formação. A biblioteconomia é uma parte do que sou. É algo que está comigo desde criança. Mas lá no fundo, achava que ela era o todo, que iria me sentir diferente depois de formada, que ia me sentir satisfeita, que finalmente “seria alguém” e estaria fazendo algo que me trouxesse a satisfação e não porque tenho contas a pagar no início do mês. O que sinto é que, lá no fundo, essa não é a Karin que gostaria de ser. Escolhi pelo o que é mais seguro.
Eu tenho uma relação com a música. Desde criança ouvir música me acalma. Quando morava com minha mãe o rádio era minha companhia até a hora de dormir (e até depois de dormir). E ouvir música me levou a dança. Dançar é o que me traz paz de espírito. É o que me equilibra física e mentalmente. É a minha terapia. Quando danço, eu performo. Me sinto uma bailarina em um show da Madonna, me sinto coreógrafa, me sinto plena. Me sinto Karin depois de 40 minutos dançando, cantando, suando, extasiada, viva e feliz. Não me lembro quando foi a última vez que fiz isso. A última vez que liguei o som bem alto e decidi dançar e sentir o meu corpo se mexer, o meu coração acelerar e sentir a alegria contagiar todas as células do meu corpo, porque essa sensação para mim é indescritível. E quando paro para pensar porque parei de fazer isso eu não encontro resposta. Eu não encontro uma razão racional. Será o tempo? Serão as responsabilidades? O cansaço e indisposição? Será que esqueci de como é a sensação? Será tudo isso junto e mais um pouco que a cabeça não consegue se desligar e lembrar (ou descobrir) o que te faz ser o que você é? Dançar era o meu refúgio, o meu escape, onde eu poderia esquecer tudo e sentir. Apenas sentir.
Eu me indago o tempo todo se minhas angústias de ser adulta também são sentidas por outros adultos mais velhos do que eu. Me pergunto se meus pais tiveram anseios que foram anulados pelo fato de terem decidido seguir o caminho esperado. Se eles poderiam ter sido algo totalmente diferentes do que foram. Se eles são felizes com aquilo que decidiram seguir, com a vida que escolheram. Se por acaso pensam sobre isso. E me indago também se talvez eles nem pensem ou nunca pararam para refletir sobre. E toda essa inquietude é fruto da minha mente porque vivo nessa sociedade que me cobra por papéis e ao mesmo tempo me diz q posso ser e fazer o que eu quiser. Fico pensando em tudo aquilo que um dia desejei ser ou fazer e tento entender porque não fui atrás das outras opções. Por que eu não abri as outras portas? Ao mesmo tempo, martela na minha cabeça se eu tivesse aberta essas outras portas eu teria sido feliz, ou infeliz.
Eu me sinto sufocada com a sensação de que não estou seguindo o caminho que meu coração precisa para ser feliz. Eu sei que não existe essa história de felicidade plena, onde somos felizes por completo e o tempo todo. Isso é lenda. Eu tento entender se essa pressão para sermos felizes com nossas escolhas é algo que a sociedade nos impõe ou se é a gente mesmo que fica nessa loucura em encontrar o prazer e a satisfação. É uma incessante busca pelo nirvana dos tempos modernos. A questão é: que caminho é esse que estou tentando buscar, será que realmente quero tomar um caminho.
Estou nessa busca. E é uma busca angustiante, sem saber se irei ter sucesso. Se irei conseguir, em algum momento, encontrar aquilo que estou procurando. Algo que me completa, que diz quem eu sou, qual a minha essência, a minha paixão, o meu refúgio. É cansativa e frustrante e ninguém consegue dizer para você se está no caminho certo ou errado. Você não tem pista. É doloroso, é depressivo. Parece que nada que faço é o bastante. Me sinto a beira da inutilidade, da incapacidade. Já me perguntei para quê tudo isso? Qual é a razão? E a única coisa que consigo fazer é chorar, chorar e chorar. É uma bad forte, violenta
Eu não sei bem que caminho seguir. Se é que ele existe. Talvez eu já encontrei e não me dei conta e estou aqui sofrendo sem precisar. Talvez eu não me conformei com o que há para mim e quero mais. Estou nessa busca de me encontrar, encontrar aquilo que sou ou que quero ser. Encontrar a minha paixão, que me acalma, que me expressa, que me traz paz, aquilo que me torna a Karin que desejo ser. É complexo. É psicanalítico!
Eu vi o vídeo. E vi de novo. E vi pela terceira vez. E continuo assistindo enquanto escrevo aqui, porque apesar de ser um vídeo de alguém famoso, com estabilidade financeira, alguém que nunca imaginamos ser possível precisar se reencontrar, também é um ser humano com coração partido, que sofre, que tem questionamentos sobre suas escolhas e o que o faz feliz; que talvez não encontrou aquilo que o completa. Ele encontrou na pintura o que ele é e as respostas para suas indagações. A sua outra metade. Atuar não era tudo para ele. Faltou a outra parte. E depois de tanto tempo, de períodos até de depressão, ele conseguiu encontrar na pintura aquilo que tanto sentiu falta ao longo de sua vida.
O vídeo I needed colors (“Eu precisei de cores” ou “Eu precisava de cores”, em tradução livre), e não só esse vídeo como tantas outras histórias que ouvimos por aí nos traz uma luz no fim do túnel. Ainda dá tempo de poder começar do zero, de começar algo totalmente diferente, de poder se reinventar e encontrar lá no fundo o que te deixa feliz, o que te dá prazer, o que consegue refletir quem você realmente é. Alguns vão descobrir logo de cara, outros vão encontrar a sua rota no meio do percurso. Alguns irão morrer tentando descobrir. E muitos nem saberão da possibilidade de haver um outro caminho. Eu espero encontrar as minhas cores, o que me deixa feliz.
♥
Mil beijos e até mais!
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8 Comments
Bruna Morgan
9 de agosto de 2017 at 23:50Eu penso muito nisso, se estou no caminho certo, se serei alguém que meu eu do passado vai se orgulhar. Eu acho que todo mundo passa por esses questionamentos, mas não falam para os outros
Karin Paredes
12 de agosto de 2017 at 22:08Eu falo muito pouco, mas esse vídeo mexeu demais comigo
Tinha que externar! E quando faço isso vejo que não sou a única.
Obrigada pelo comentário.
Mil beijos!!
Adriana Moreira
10 de agosto de 2017 at 13:02Karin,
Eu não entendi quase nada do vídeo, pois não falo inglês, mas eu acho que as imagens e as cores falam por si só! É emocionante ver a beleza impressa nessas pinturas e saber que depois de tanto tempo ele descobriu sua essência e que essa descoberta pode colorir a vida de muitas pessoas ao seu redor e até de pessoas como você e como eu, que ele nem conhece pessoalmente.
A vida da gente é mesmo isso, um descobrir, ou descortinar-se no dia-a-dia. é uma eterna descoberta! Eu também, depois de ler o seu texto, fico imaginando que depois de tanto tempo eu descobri o que eu gosto de fazer com amor, como se fosse minha própria essência. Ler, escrever, isso me traz uma paz indescritível. O ruim de tudo isso, são que as nossas responsabilidades com trabalho, com metas, com atividades domésticas variadas e tudo o que gira em torno da minha rotina, muitas vezes me afasta desse meu ponto de equilíbrio. Eu passo o tempo todo lutando contra tudo e todos para que a minha essência possa ter vez. Isso causa um desgaste imenso, mas quando eu consigo deixar vencer o meu “EU”, tudo volta ao normal. As tempestades se acalmam e eu volto a ser quem sempre fui e que quero ser!
Muito lindo! Indescritível esse teu post! Amei!
Abração,
Drica.
Karin Paredes
21 de janeiro de 2018 at 00:32Olá Drica!
Obrigada por compartilhar a sua experiência.
Vamos nos abraçar nessa busca pelo que nos dá prazer na vida e pelo equilíbrio entre responsabilidades e e nossa essência.
Mil beijos
Dani Georgeto
10 de agosto de 2017 at 16:35Eu não consegui ver o vídeo ainda, mas o que você escreveu bateu tão fundo aqui que poderia ser sobre mim. Acho que todos nós vivemos mesmo essa angustiante busca por algo que nos dê mais prazer. Há 10 anos eu achava que era uma coisa, há 5 eu achava que era outra, e hoje eu já nem sei mais. O que eu sempre tento fazer é achar projetos paralelos ao que eu faço, com atividades que me dão prazer. Quem sabe numa dessas eu encontro realmente o que me faz feliz… Acho que o mais importante é nunca parar de tentar coisas novas, não a ponto de ficar maluca, mas com calma, no seu tempo. Talvez isso me deixe um pouco ansiosa, mas foi o melhor caminho que eu encontrei.
Karin Paredes
21 de janeiro de 2018 at 00:34Olá Dani!
A ansiedade é uma danada mesmo, né!
Depois de ler o seu comentário, acho que única coisa que posso parafrasear é:
“Continue a nadar, continue a nadar!”
Mil beijos
Loma
10 de agosto de 2017 at 22:39Eu chorei tanto assistindo esse vídeo e me peguei hipnotizada pelo olhar dele quando pinta. A gente ta sempre se redescobrindo, né? Eu não sabia que você amava dançar, eu amo também! Estudei dança quando nova e precisei largar a academia pra pode trabalhar no banco e pagar minha faculdade. Eu também amo música e mais do que dançar, eu amo cantar. Já me perguntei inúmeras vezes se eu devia ter investido numa carreira de música e canto quando mais nova. A sensação que tenho é que agora é tarde demais pra isso. Ai eu vejo esses vídeos como o dele e penso: será que é tarde mesmo? Inclusive, tô aprendendo a pintar com a Sabrina Eras e tem me feito muito bem, em dias de ansiedade. Nunca é tarde pra gente correr atrás daquilo que faz bem né? E mesmo que não seja uma carreira, mesmo que seja uns minutinhos por dia, faz uma diferença enorme. Estamos juntas! Amei o post.
Karin Paredes
25 de janeiro de 2018 at 20:57Oi Loma,
Também chorei bastante com ele.
Tão frustante ter que abrir mão de coisas que a gente ama por conta das responsabilidades.
Porque temos tanto medo de sair da caixa, da zona de conforto pelas coisas que amamos, mas que não são seguras?
O que tento sempre pensar para me deixar um pouco mais tranquila é que aquela decisão tomada me levou por um caminho diferente por uma razão. Seja ela qual for.
E não! Nunca é tarde para começar a seguir um sonho, mudar um caminho e ou fazer algo que nos dê prazer.
Mil beijos